18 de jul. de 2012

Me busque

- Me busque mais tarde.

Ela falou assim, com uma certa tranquilidade, como quem poderia a qualquer momento complementar com um "e não esquece de me trazer aquele chocolate que eu amo". Então sorriu, esse sorriso semente de novos mundos. E foi o último. O resto da minha vida agora chama-se mais tarde.

1 de jul. de 2012

Clube imaginário

Eu compreendo todos os homens que te amaram. Aqueles que sofreram, aqueles que te beijaram e aqueles que morreriam por um beijo teu. Transtornados, desculpo aqueles que te fizeram mal, consumidos por esse amor que você desperta. Fracassados, sinto a dor daqueles que moveram mundos para te conquistar e não conseguiram. Não invejo aqueles que te fizeram feliz, souberam navegar seus mares, sobreviveram em sua memória, te trouxeram até aqui. Não me sinto melhor, nem tenho soberba por estar no tempo presente, isso seria uma ilusão. Me sinto parte, próximo, mais um homem dentro desse grupo, de homens que ousaram te amar. Já pensei em promover encontros mensais, trocarmos confidências, cartas de amor, músicas, tragar um whisky cúmplice, reunir tudo que já foi feito em prol da experiência surpreendente que é te amar. Desisti não por achar defeito na ideia, mas percebi que o lugar desses encontros é o espaço do imaginário, e lá, eles já existem há muito tempo, antes de mim, e continuarão existindo depois. Nos encontramos na imaginação, trocamos detalhes, pequenas dicas, confidências, na imaginação somos sempre melhores, menos ásperos, mais compreensivos com nossa própria condição: de homens, que já te amaram. De fato, não existe esse verbo no passado. Dos homens que te amam. E assim seguem, sempre. Alguns aprenderam a assobiar, outros tiveram filhos, publicaram livros, encontraram outras mulheres e decoraram novas possibilidades sem você. Mas o clube, nossos encontros imaginários, o sentimento em comum, permanece, intacto, nos dá força, nos une em nossas individualidades pequenas. Tropeços daqueles que se acovardaram. Porque só é possível te amar sabendo-se parte desse grupo, como mutantes, sem o heroísmo dos X-Men, buscando sobreviver em seu sentimento, em sua memória. Não somos melhores, nem mais generosos, apenas descobrimos ainda em tempo, as regras desse jogo inexistente. Só compreendendo os homens que já passaram pela sua vida, consigo ser mais um. Mais um. E isso não retira meu desejo maior, de que esse clube se encerre com os sócios existentes.