24 de jan. de 2010

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A idade não sabe se traduz o tempo no corpo ou o mundo na alma. Nessa indecisão, celebramos aniversários. Aquele vigor, delicado e agressivo, da infância na ponta do kichute, ainda me rende frutos. Não há qualquer duvida que foi numa bicuda daquelas que cheguei até aqui. A intenção foi chutar pro gol, ou chutar pra frente sem piedade, mas acabou resultando num ótimo lançamento. Recebo a bola quase sem direito a dúvidas. Aprendo, a cada ano, um novo jeito de jogar junto com a idade. O corpo é a decisão da alma.

12 de jan. de 2010

ressucitando

_0 tempo desanimava um pouco as suas pernas. parada, ela possuía aquela beleza que pode matar um homem. ao movimentar suas pernas, ela fazia com que as imperfeições surgissem de maneira cadenciada. assim, nesse desânimo, pude me aproximar. desistir-me em sua vaidade carinhosa de meus olhos. Mas antes fosse perfeição, tudo aquilo, para me proteger e banhar de distância.

_quem quase morre acaba ressucitando um Pouco.

7 de jan. de 2010

Cabeça Branca

Lourival tem aquele cabelo grisalho e a pele anoitecida, com um bigode de vagabundo. Sempre gesticulando muito, foi da orla até o Pelourinho falando. De ínicio, achei que era mais um cobrador de ônibus safado. Adorava mexer com as mulheres. Num exercício inédito, tentei entendê-lo antes de todos os meus julgamentos.
- Ô minha querida, você é gordinha, mas tá ajeitadinha, hein?
Não demorou muito para eu entender que Lourival só elogiava as mulheres desprovidas do repertório convencional da beleza. Um apressado diria: as feias. Minha surpresa não estava nisso, uma vez que gosto é algo amplo, cabe tudo. A questão era a reação que ele provocava nessas mulheres. Lourival era praticamente um investidor tácito na auto-estima daquelas mulheres. Não sai da minha cabeça o sorriso da gordinha. Um sorriso bonito, gordo mesmo, de ponta a ponta.
- Toda mulher tem uma beleza guardada.
No sol do dia-a-dia Lourival era cobrador de ônibus, compositor dessa opereta para as mulheres desajustadas pela beleza tradicional. Na lua das noites ímpares, Lourival era Cabeça Branca, fazedor de sambas tristes na Barroquinha.
- Em terra de carnaval, a tristeza virou quase uma feiura.