31 de ago. de 2008

Seguro

É que minha verdade, junto a sua, não sabe o que fazer.
Ou mentimos, ou nos afastamos.
Ainda que se afastar seja só uma outra maneira de mentir.

28 de ago. de 2008

pra gaveta

Cada um carrega uma identidade da dor. Não como um RG, com números e uma foto sempre desatualizada. E sim um terreno abstrato que reflete suas experiências nesse universo de sofrer. Por isso algumas coisas nos marcam e nos emocionam mais que outras. É como se sua dor se identificasse com outra, e elas se cumprimentassem. Por isso o choro é sempre algo que não nos pertence, não há um controle do corpo sobre. O choro pertence a essa nossa outra identidade.
É isso que sinto as vezes, mais do que uma falta de controle, mas é como se a dor não me pertencesse. E sim o contrário. Por isso quando recorro a memória e vou nessa sensibilidade ignorante e tardia refazendo caminhos equivocados. Despedidas mal feitas. Aquela frase que poderia ter sido mais branda. Uma sisudez desnecessária para sua mãe que você pouco vê no ano. Uma jogatina de palavras vãs em discussões pueris com aquele amor. Aquela história que poderia ter dado mais passos adiante se a firmeza dos meus pés não fosse tão agressiva em momentos que bastava dar um pulinho, como esses que a gente dá na poça em dias de garoa simbólica. Alguma dureza em lidar com o pai quase que o punindo por sermos tão parecidos em pontos que não me agrada. Uma precipitação. Isso não é um vendaval qualquer de pequenas desgraças. Isso é o que compõe essa minha identidade da dor. Aquele último abraço que não consegui dar no meu avô. Não se reconhecer em sua própria dor é ser anônimo de si.



17 de ago. de 2008

mi

Ás vezes eu esquecia que ele ainda estava vivo para me enganar com uma morte que jamais chegaria. Mas chegou e não há mais engano possível.

Caymmi é o que a música brasileira pode ser.

Saravá, nossa saudade.

7 de ago. de 2008

li imitar

Não existe uma linha vísivel. Uma faixa com letreiros avermelhados: não ultrapasse, aqui é o seu limite. Sempre acabo associando o limite a uma situação adversa, um comportamento, uma ação, um certo contexto. Bobagem. Penso seriamente que só estamos vivos por causa dos limites, porque somos seres completamente precários e limitados forjando realidades a todo instante. Está aqui dentro, de mim, de cada um, esse volume asbtrato de superação. Alguns o conhecem em alguns instantes. Outros, carregam uma vida inteira nesse limiar. Nós só conseguimos realmente saber quem somos no limite. Que na verdade, tem muito menos a ver com algo externo e sim com a reação, a maneira que iremos lidar com essa situação. Um fato. Uma ação. Uma dor. Uma vida. Uma morte. Um amor. A paixão talvez seja o limite cuja superação mais pulsa nas artérias. Paixão e limite, pra mim, são quase irmãos gêmeos. E o limite de existir não é morrer.

Quando aquele corredor cambaleando vai se arrastando até o fim da prova, não é o espírito olímpico que importa. Até porque espírito olímpico é uma bobagenzinha politicamente correta. Essa cena toca profundamente porque materializa esse desafio: é como se cada passo fosse mais um cima da superação de si mesmo. E mais um. E outro. Existe uma beleza arrebatadora nisso. Não é um teste de capacidade. É um flagrante de vida.


"Eu vejo a beleza no mundo através de homens que chegaram ao limite."
Naomi Kawase



6 de ago. de 2008

anotei e botei na jaqueta da alma

Ser diferente é óbvio. Já somos todos, mesmo com todo o excesso de repetições e reproduções. Querer ser diferente é medíocre. Porque o que move esse desejo é a eterna comparação.

É sempre esse desafio: não ser diferente. Mas ser único. Não exclusivo, sem essa falácia de ser especial. E sim autêntico.