27 de jul. de 2008

Direito de sambar

Batatinha não foi simplesmente um dos maiores poetas do samba. Sua autenticidade fez com que a tristeza viesse dançar junto com os demais, na roda de samba. Ali na Bahia, meus caros, numa outra Bahia.

É proibido sonhar
Então me deixe o direito de sambar
É proibido sonhar
Então me deixe o direito de sambar

O destino não quer mais nada comigo
É meu nobre inimigo
E castiga de mansinho
Para ele não dou bola
Se não saio na escola,
Sambo ao lado sozinho

É proibído sonhar
Então me deixe o direito de sambar
É proibído sonhar
Então me deixe o direito de sambar

Já faz dois anos que eu não saio na escola
A saudade me devora
Quando vejo a turma passar
E eu mascarado, sambando na avenida
Imitando uma vida que só eu posso enfrentar

Tudo é carnaval
Pra quem vive bem
Pra quem vive mal

24 de jul. de 2008

Batman, casais, coringa e cinema

Esse texto começa sem palavras. Existe uma cena. Cinema lotado, quarta-feira, filme do momento. Aquele velho impasse da falta de cadeiras para casais sentarem juntos. Eu mudei de lugar, abrindo precedente para a efetivação amorosa de um casal de meia-idade. Não quis ser generoso. Estava apenas me incomodando profundamente o desamparo da mulher. A história iria parar aqui. Essa é a cena, sem palavras. Não trocamos palavras. Ele me agradeceu com um tapa nas costas. Ela me agradeceu com os olhos - que trocaram o desamparo pelo encantamento.
Eu não ia escrever isso aqui.
Mas ai começou o filme. Fiquei com vontade de falar qualquer coisa sobre o filme. E achei que seria importante falar desse ínicio. Não vou fazer crítica cinematográfica ou tecer algum comentário do universo HQ. Também não quero avaliar a atuação do Coringa. A morte só faz voar quem em vida tomou o impulso.

Gosto dessas coisas humanas que costumamos afastar da humanidade. Derrotas, sujeiras, insanidade, decisões erradas, atos passionais, caos.

Aquele Batman e Coringa que presenciei me trouxe tudo isso. O maniqueísmo foi repaginado de maneira 3D. Criou-se volume. Batman e Coringa não são faces de uma mesma moeda. São vértices de uma forma geométrica volumosa, cujo conteúdo seja foge da lógica. ordinária .Coringa está ali para desmascarar aqueles que planejam. As pessoas dos planos. Do prefeito ao homem-de-bem comum. É que talvez seja verdade: planos não funcionam, mesmo quando funcionam. Batman não está mais ali para ser herói. Está ali movido por paixões e convicções. E mata do mesmo jeito. Caráter é uma falácia. Autenticidade é o que une os dois. E eles não matam um ao outro. Porque nenhum dos dois operam com uma lógica convencional. Coringa não está atrás de dinheiro. Batman não está atrás de justiça para o mundo. E a identificação recíproca os mantém vivos. Os dois são seres completamente atormentados e reagem cada um a sua maneira a isso. Uma dose de irreverência cruel aqui. Uma pitada de idealismo sem escrúpulos ali.

O casal reproduziu no final a cena de amor que talvez tenha faltado no filme.

15 de jul. de 2008

trechos desquitados, idéias solteiras

Eu não sou a pessoa mais confiável para lhe dizer isso, mas se confiança fosse suficiente talvez não fosse nem necessário dizer. Entenda que cada palavra minha que antecede isso que preciso lhe contar não é demonstração de insegurança ou rastro de uma veia prolixa. Essas são meras circunstâncias. Já que sou eu quem carregou isso. E agora entrego em suas mãos. 

Viver é sua última possibilidade.

lo-ve

"O Deus do Amor vive num estado de urgência."

Platão