29 de abr. de 2005

Insônia, incompreensão, incoerência

"Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta."

Eduardo Galeano

27 de abr. de 2005

A força jovem da poesia gaúcha e o xamanismo poético amazonense

Fabrício Carpinejar - O real é aquilo que não podemos sonhar?
Vicente Franz Cecim - O real é aquilo que nos sonha.

Besta é tu, besta é tu

Embrulhou com papel bolhinha, se controlando para não dispersar o dia estourando e fazendo sorriso dos barulhos. Certificou-se da segurança do pacotinho e colocou numa caixinha da grife SEDEX, da renomada estilista dos correios. Hesitou em colocar o nome e endereço do remetente. Colocou só seu apelido de colégio. E deixou o endereço em branco. No destinatário, colocou o endereço de um lugar seguro, muito seguro. No pacote, estava seu coração. No fundo sabia que não há lugar seguro para enviar seu coração, mas queria ter pelo menos o alívio de alguns dias até o correio perceber que o endereço não existe. E o pacotinho iria cair no limbo do correio pois não tinha endereço para devolução, só o apelido do remetente.

O lugar mais seguro que conseguiu imaginar para enviar seu coração foi a memória do seu avô. Poucos dias depois, o pacotinho, de volta. O carteiro era seu amigo de infância. E mais, tinha sido o autor do apelido.

25 de abr. de 2005

Valid only in Mind

Você já imaginou a desgraça de não ter um medo, uma morte, uma dor?
Varrendo a terra com as mãos, cavando as unhas com o chão. Diariamente. Seu equívoco era diferenciar, quando era preciso enterrar, quando era preciso plantar. O movimento era praticamente o mesmo. Enterrar uma morte ou plantar uma vida. A diferença, um defunto ou uma semente?

Entrada de emergência

Esse aqui é meu mundo, disse, quase como apresentando-me. E por onde posso entrar nele? O único jeito de entrar é permanecendo do lado de fora.

22 de abr. de 2005

Olhares, encanto, álcool e intimidade



Elas não sabem, mas minhas histórias nascem dessas iluminuras do cotidiano. Estarão em algum filme ou texto. Em algum sorriso ou bocejo. Em algum desvio de mim, ou eu por inteiro.

21 de abr. de 2005

Deixe eu ser rídiculo, por favor?

Ele se apaixonou por quem se apaixonou por quem se apaixonou por quem se apaixonou por...enfim. Não poderia ser mais simples? É uma amiga linda. É feio querer mais do que amizade? Oi, muito prazer, eu sou muito feio.

14 de abr. de 2005

Um ilustre desconhecido, Charles Mackase.

Prefácio (da edição de 1852) do livro Ilusões populares e a loucura das massas

“Encontramos comunidades inteiras que fixam de repente suas mentes em um objeto e enlouquecem à sua procura, que milhões de pessoas se tornam simultaneamente impressionadas por uma ilusão e correm para ela, até que sua atenção seja atraída para alguma loucura mais cativante que a primeira. Vemos uma nação de repente tomada, dos seus membros mais altos aos mais baixos, por um feroz desejo de glória militar; outra de repente se tornando enlouquecida em função de um escrúpulo religioso; e nenhuma delas recobrando seus sentidos até que tenham derramado rios de sangue e semeado uma colheita de gemidos e lágrimas para deixarem todo proveito a ser obtido somente por sua posteridade. Numa antiga época, nos anais da Europa, sua população perdeu o juízo sobre o sepulcro de Jesus e se reuniu em multidões frenéticas para procurar a Terra Santa. Em outra época, enlouqueceu por medo do demônio e ofereceu centenas de milhares de vítimas à ilusão da bruxaria. Em outro tempo, muitos se tornaram dementes a respeito da pedra filosofal e cometeram loucuras até não serem mais ouvidos em sua busca. (...) O dinheiro novamente tem sido muitas vezes a causa da ilusão das multidões. Nações sóbrias tornaram-se todas aos mesmo tempo jogadoras desesperadas e quase arriscaram sua existência num lance por um pedaço de papel. Traçar a história das mais proeminentes dessas ilusões é o objetivo dessas páginas. O homem, já se disse muito bem, pensa em bandos e se verá que eles enlouquecem em bandos, ao passo que só recobram a lucidez lentamente, e um a um."

3 de abr. de 2005

Pensata portuguesa

"Pela idade, há muito tempo que sou um velho. Mas só pela idade. Trabalho com a mesma vontade de sempre, a imaginação ainda não desertou de mim, compreendo melhor o mundo em que vivo, sou consciente do valor da vida, e, quanto à morte, ela chegará no seu dia, nem antes nem depois. Quem morre aos 20 anos, morre na sua velhice e não o sabia. "

José Saramago

1 de abr. de 2005

Um adeus vestido de bom dia

Primeiro descobriu a revelação e só bem depois conheceu o segredo. Sim, sua memória era sua mais profunda tristeza. O braço avisava as palavras a mão através do egoísmo dos dedos, impaciente como sangue, nas veias. Quatro paredes conversavam uma casa, o silêncio era o teto, por isso confundia a lâmpada com a lua e sentia o frio do relento. Você me machuca – ouviu o eco. Dizia Eu te amo e o espelho fazia cara feia. Sua genialidade então era isso: a competência em reunir ignorâncias desconhecidas dando-lhes a intimidade de uma família. Até quando? Retornou sem bagagem, e se tornou aquilo no meio da sala. Viajou algumas vezes, mas seu visto para ir ao quintal tinha perdido a validade. O mato escrevia sua moradia com descaso e desejo. Entre dois amores descobriu um resto de algo. Sua força estava toda nas palavras, sua pouca auto-estima não lhe revelava na folha em branco nenhum músculo. Seu pior pesadelo não era um dia acordar analfabeto, era viver trancado numa biblioteca. Não teve paciência parar continuar na urgência da vida.

Arte y vida

Grafitada numa parede branca, na Escuela Internacional de Cine y TV, localizada em San Antonio de los Baños, duas frases, uma escrita por Coppola e a outra, tempos depois, escrita por Fernando Birri, um dos diretores da Escola.

ART NEVER SLEEPS

...pero sueña de ojos abiertos.

Andarilho

Não sei o nome da rua de nenhuma saudade onde morei.